Pela primeira vez, astrônomos conseguiram observar as camadas internas de uma estrela no instante em que ela explodia como supernova. O fenômeno, descrito na revista Nature, expôs estruturas profundas que antes só existiam na teoria e trouxe novas perguntas sobre a morte dos gigantes cósmicos.
As supernovas sempre foram tratadas como os grandes espetáculos do cosmos: explosões de brilho tão intenso que podem ofuscar uma galáxia inteira. Mas, nesse caso, o show cósmico trouxe também uma revelação científica.
A estrela que deu origem à supernova, batizada SN 2021yfj, havia perdido suas camadas externas pouco antes da explosão. Esse detalhe raro fez toda a diferença: em vez de misturar os materiais, a detonação expôs diretamente uma concha espessa de silício e enxofre — algo que os modelos previam, mas que nunca havia sido confirmado na prática.
Uma surpresa inesperada
A observação trouxe ainda um elemento intrigante: a presença de hélio, um gás mais leve que deveria ter desaparecido nas etapas anteriores da vida da estrela. Essa anomalia sugere que o processo de perda de massa dos astros pode ser mais complexo do que se pensava. Uma das hipóteses é a interferência de uma estrela companheira, que teria alterado o destino da gigante em seus últimos instantes.
Supernovas não são incomuns, estima-se que ocorram cerca de duas por século em uma galáxia como a Via Láctea. O que é raro é capturar um momento como esse. Os cálculos indicam que descobertas desse tipo correspondem a menos de uma em cada mil explosões estelares. Essa exclusividade torna a SN 2021yfj um objeto precioso de estudo e ajuda a preencher lacunas sobre o que realmente acontece nos segundos finais da vida de uma estrela massiva.
A importância para nós
Pode parecer distante, mas entender essas explosões tem ligação direta com a nossa própria existência. É dentro das estrelas, e de suas mortes violentas, que se formam os elementos que compõem tudo o que conhecemos: do ferro no sangue ao cálcio dos ossos, passando pelo oxigênio que respiramos. Cada descoberta desse tipo é também um capítulo a mais na história da origem da vida no universo.
Agora, a expectativa é que telescópios de nova geração, como o Observatório Vera Rubin, no Chile, detectem muitos outros eventos semelhantes. Quanto maior o catálogo dessas “autópsias cósmicas”, mais pistas a astronomia terá para compreender como os astros se desfazem e como suas cinzas dão origem a novos mundos.