Contrex e Hépar são duas marcas de água mineral natural vendidas pela multinacional Nestlé. Uma investigação do Gabinete Francês da Biodiversidade chegou à conclusão que estas continham taxas “exorbitantes” de microplásticos.
De acordo com o estudo, revelado pelo Mediapart, a Nestlé deixou quantidades significativas de garrafas de plástico “empilhadas descontroladamente” nas imediações das suas próprias fontes e estas acabaram por contaminar o solo e a água circundante.
O resultado foi que em alguns dos furos destas duas marcas de águas foram detetados níveis de microplásticos entre cinco a quase quase 3.000 vezes acima do normal.
A multinacional terá agora de ir a tribunal, acusada de, entre 2016 e 2024, ter “armazenado de forma oculta e dissimulada” resíduos, tendo-os “abandonado ilegalmente”, o que provocou “degradação ambiental substancial […] libertando microplásticos”. Para além disso, é acusada de ter “permitido que […] partículas de microplásticos fluíssem para as águas superficiais e subterrâneas […], medidas em concentrações vários milhões de vezes superiores às dos dados científicos conhecidos”.
Concretamente, a empresa deixou a degradarem-se ao ar livre mais de 400.000 m3 de detritos nas imediações das suas as fábricas de engarrafamento em Vosges. Tratava-se essencialmente de garrafas de plástico e de vidro mas em alguns casos também de placas de amianto.
Num aterro ilegal em Contrexéville, denominado o “vulcão” pelos funcionários e pelos habitantes locais, foram descobertos 346.000 m3, 250.000 m3 plásticos, o que equivale, diz aquele órgão de comunicação social, a 66 piscinas olímpicas.
Sabe-se também que os representantes da Nestlé Waters já tinham conhecimento da situação desde 2014 mas que o Estado só foi informado em 2021. O magistrado responsável pelo caso descreve o que se passou como “cinismo” porque a empresa, depois de ter tido conhecimento do que se passava podia ter resolvido a situação mas “escolheu esconder-se atrás dos silêncios da administração”,
Recorde-se que a Nestlé comprou as fábricas de Vittel e Contrexéville em 1992. A existência de aterros selvagens nestes dois locais era prévia e foi assim “herdada”. Mas, salienta-se, na altura da compra seria “impossível de ignorar a sua presença, com os investigadores a referirem que um deles tem a altura de um edifício de seis andares e outro tem uma área de mais de um hectare”.
Foi a própria presidente da Nestlé França, Sophie Dubois, que confirmou numa audiência parlamentar em 2021, que a empresa sabia da poluição desde (pelo menos) 2014 sem ter procedido à despoluição.
Os investigadores agora alertam para os “efeitos nocivos sobre a saúde humana” desta poluição e falam numa “degradação substancial” pois os detritos são fragmentados “em micro ou mesmo nanoplásticos, impregnados e espalhados nas redes de solos e águas subterrâneas, pelo que não é possível qualquer descontaminação”.
Os agentes da OFB recolheram amostras destas águas nas fábricas de engarrafamento tendo concluído que a taxa de contaminação da água Hépar é 51.000 a 328.000 vezes superior e a da Contrex é 200.000 a 1,3 milhões de vezes superior às taxas encontradas em várias fontes de água diversas e nomeadamente até no rio Sena. Outra comparação com dois estudos de 2024 concluiu que os níveis encontrados nessas águas da Nestlé eram 5 a 2.952 vezes superiores ao encontrado nos lençóis freáticos ao nível mundial.