Dois estudos recentes apontam que o colapso do solo em cinco bairros de Maceió, causado pela atividade de mineração da Braskem, poderia ter sido evitado com medidas regulatórias mais rigorosas e o cumprimento de normas de responsabilidade socioambiental. O caso, que deixou mais de 50 mil pessoas desabrigadas, é analisado sob a perspectiva do planejamento urbano e da gestão de riscos.
As análises foram publicadas nas revistas Cidades: Comunidades e Territórios e Perspectivas da Ciência e Tecnologia. Em uma das pesquisas, desenvolvida por Tatiane Ferreira Olivatto, Felipe Facci Inguaggiato e José Augusto Di Lollo (UFSCar e Unesp), os autores destacam que a ausência da exigência do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) no Plano Diretor de Maceió comprometeu a avaliação prévia dos riscos das atividades de extração salina.
Já o segundo estudo, assinado por Vanessa Faria Silva (IFRJ), Ana Paula Medeiros Bauer (Faeterj) e Renata Guimarães Quelha de Sá (UFF), discute o papel da mineração urbana e aponta a necessidade de revisão dos instrumentos de governança territorial, especialmente em áreas urbanas com presença de atividades de alto risco.
Ambos os trabalhos também questionam a atuação da Braskem quanto ao cumprimento de seus próprios princípios de responsabilidade social corporativa, previstos em suas diretrizes institucionais. Para os pesquisadores, falhas nesse campo evidenciam lacunas no monitoramento e fiscalização de empreendimentos com grande impacto ambiental.
O desastre em Maceió segue sendo tema de debate acadêmico, jurídico e político, e continua mobilizando discussões sobre modelos de desenvolvimento urbano, gestão de território e o papel das empresas em contextos de risco socioambiental.