Com acolhimento estruturado e políticas de reintegração social, Passarela da Cidadania se consolida como referência no apoio à população em situação de rua na Capital
Antes de voltar a comandar um fogão, Paulo precisou reaprender a comandar a própria vida. Conhecido como Chef Black, ele já tinha paladar apurado, técnica e uma bagagem sólida — com formação em gastronomia no Senac da Prainha, em Florianópolis, e passagens por cozinhas em Gramado (RS), onde chegou a ocupar cargos de liderança. Mas a trajetória foi interrompida por um desastre climático.
A enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no último ano fechou portas, tirou empregos e desfez rotinas. Desempregado e sem fortes vínculos na região, decidiu retornar a Florianópolis. Nesta nova passagem, no entanto, não encontrou as conexões de antes. Sem emprego e rede de apoio, caiu em situação de rua.
O primeiro passo de uma nova vida
Foi nesse cenário, já quase sem esperança, que Chef Black encontrou a Passarela da Cidadania, estrutura da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de Florianópolis, instalada na Passarela Nego Quirido.
“Passei uns três ou quatro dias ganhando café da manhã, almoço, janta, café da tarde, lavando roupa, tendo um lugar digno para dormir. Isso faz toda a diferença para quem está tentando recomeçar”, diz ele.
A passagem pela Passarela foi mais do que um abrigo temporário. Foi o primeiro passo de um novo caminho. Ele recebeu atendimento psicossocial, cuidados básicos e, principalmente, a escuta atenta de quem enxerga cada pessoa em situação de rua não como um número, mas como alguém com nome, história e potencial.
Com dignidade, a vida retoma o ritmo
Foi por meio de uma vaga como cozinheiro no restaurante Jeito Nômade de Ser que ele voltou à rotina das panelas, ainda sob a supervisão de um subchefe. Pouco tempo depois, com mais segurança e autoconfiança, decidiu dar um passo maior: Chef Black está em processo de abrir sua própria pizzaria.
A história de Paulo mostra que, com acolhimento, estrutura e oportunidade, a possibilidade de transformação é possível. E sair das ruas não depende apenas de força de vontade, mas de políticas públicas eficazes, integradas e focadas na retomada da independência.
Estrutura e impulso para recomeçar
Na Passarela da Cidadania, o acolhimento é estruturado. No local, são oferecidos pernoite, alimentação, lavanderia, banheiros, guarda-volumes, atendimento social e psicológico. Mas o trabalho vai além da emergência: é focado na autonomia dos acolhidos.
Com foco na autonomia e no resgate da autoestima, a Passarela oferece oficinas técnicas de barbeiro, auxiliar de serviços gerais, marcenaria, banho e tosa, além de atividades de música, jardinagem e convivência — uma rede de apoio que prepara para a vida fora das ruas. Para quem não teve acesso à escola, há também uma unidade do EJA Pop Rua, que garante o direito à educação formal.
A Passarela da Cidadania é referência nacional em atendimento humanizado e reinserção social. Por trás dos números de acolhidos por mês, estão vidas em processo de reconstrução, como a de Chef Black.
Centro Pop, referência para o convívio grupal e social

Além da Passarela, a cidade conta com o Centro Pop — espaço de escuta, e encaminhamentos, onde as pessoas em situação de rua podem regularizar documentos, reencontrar familiares, participar de grupos de apoio ou até mesmo voltar para sua cidade de origem, com auxílio de transporte.
Essa rede estruturada é o que transforma a política de assistência em instrumento de cidadania. “Nosso trabalho é sobre reconstruir dignidade. Não estamos apenas oferecendo um teto por uma noite, mas devolvendo perspectivas para quem perdeu quase tudo”, destaca Luciane dos Passos, secretária de Assistência Social de Florianópolis.
Hoje, enquanto testa receitas para o novo negócio, Chef Black também resgata memórias que o fizeram amar a gastronomia e desbrava um novo caminho na cozinha. A chama reacendeu, e desta vez com tempero de esperança.
Conforme determina a Lei Municipal nº 10.199, de 27 de março de 2017, a Prefeitura Municipal de Florianópolis informa que a produção deste conteúdo não teve custo, e sua veiculação custou R$2.000,00 reais neste portal.