Fragmentos escuros e pegajosos, com forte odor de óleo, teriam aparecido em trechos do Litoral Sul de Pernambuco. Os relatos foram feitos na Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, e também em Japaratinga, Litoral Norte de Alagoas.
As manchas teriam sido encontradas no último fim de semana por frequentadores que caminhavam na faixa de areia.
O fotógrafo Fernando Júnior encontrou fragmentos enquanto realizava um ensaio na manhã da última segunda-feira (21). Ele conta que se preocupou com a quantidade de material na faixa de areia e dentro da água.
“Tinha muito óleo. Eu avisei aos guarda-vidas, que informaram para outros setores da Reserva do Paiva e eles realizaram a extração”, relatou. Em seguida, o fotógrafo publicou um vídeo nas redes sociais para alertar moradores da região e banhistas.
Para o biólogo Múcio Banja, coordenador do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), é improvável que os fragmentos sejam remanescentes do desastre ambiental de 2019.
“Não temos certeza da origem, mas sempre será preocupante qualquer volume de descarte de óleo, principalmente quando chegam ao litoral”, destaca.
O biólogo explica, ainda, que as correntes marítimas do estado geralmente seguem do Litoral Sul para o Norte, o que reforça a necessidade de monitoramento constante da costa pernambucana.
“Depois daquele derramamento que nós tivemos, sempre vamos ficar assustados quando encontrarmos mancha de óleo. Precisamos acompanhar a situação e procurar as autoridades para saber se houve outros registros no Litoral Sul”, comenta Múcio Banja.
O que diz a CPRH
De acordo com a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), no último domingo (20), após denúncias, algumas praias no Cabo de Santo Agostinho foram vistoriadas e “pequenos resquícios” de óleo foram encontrados nas proximidades da praia do Paiva.
Ainda segundo a CPRH, uma avaliação preliminar dos técnicos constatou que as manchas são, possivelmente, de “piche”. A equipe descartou a possibilidade de derramamento em grandes proporções.
Veja nota completa:
“A Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) informa que, no último domingo (20), recebeu denúncias sobre aparecimento de óleo em praias do litoral sul de Pernambuco. Técnicos do Setor de Planejamento de Atendimento Emergência vistoriaram algumas praias no município do Cabo de Santo Agostinho e constataram a presença de pequenos resquícios nas proximidades da praia do Paiva.
Em avaliação preliminar os técnicos constataram que os resquícios de óleo são, possivelmente, de “piche”. A hipótese é que o material tenha sido descartado após limpeza do taque de algum navio que passava na região. A equipe descartou a possibilidade de derramamento em grandes proporções. O recolhimento do óleo foi realizado pela Associação Geral Reserva do Paiva e, posteriormente, encaminhado para o descarte adequado pela Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho.
A CPRH destaca que, em junho deste ano, iniciou a entrega de kits de limpeza de praias. No primeiro momento, para os Municípios do Litoral Norte do estado. Em agosto, os municípios do litoral sul também devem receber esse material. A Agência segue em contato com as Secretarias Municipais de Meio Ambiente orientando e acompanhando os casos de aparecimento de óleo”.
Vazamento de 2019
Em agosto de 2019, manchas de um material denso e escuro começaram a surgir nas praias do Nordeste. A substância foi identificada como petróleo e provocou danos irreversíveis na vida marinha local.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o petróleo foi visto em 11 estados (9 do Nordeste e dois no Sudeste, Espírito Santo e Rio de Janeiro).
Só em Pernambuco, 1,5 mil toneladas foram retiradas por voluntários, equipes das prefeituras, moradores de áreas litorâneas, pesquisadores e comerciantes que dependem do turismo e da pesca.
Microplásticos em área de conservação
Uma pesquisa realizada pelo IATI em julho de 2024 fez outro alerta ambiental no litoral do estado. De acordo com o estudo, que monitora praias como Paiva, Suape, Porto de Galinhas e Tamandaré, a presença de microplásticos na região é alarmante.
Um dos destaques da pesquisa foi obtido na coleta de 2024 e constatou que a praia que apresentou a maior quantidade de microplásticos (695 fragmentos) foi a do Paiva, que é uma área reservada, pouco habitada e com menor atividade turística.
Na época, Porto de Galinhas apresentou menos da metade dos números: 320 fragmentos. De acordo com o IATI, a descoberta levanta questionamentos sobre as fontes de contaminação e a necessidade de investigar a influência de fatores ambientais e humanos no litoral.
“A quantidade de microplásticos encontrados em nossas amostras é extremamente preocupante. Essa contaminação representa um sério risco para o ecossistema marinho e para a saúde humana”, destacou a pesquisadora Jéssica Mendes, que liderou o estudo junto a Múcio Banja.