Nas cozinhas portuguesas, um ingrediente comum pode conter vestígios inesperados. Estudos recentes indicam que este condimento pode estar contaminado com microplásticos, substâncias com menos de cinco milímetros, algumas das quais ainda visíveis a olho nu.
A produção de sal, especialmente nas salinas costeiras que usam evaporação solar, parece ser particularmente vulnerável a este tipo de contaminação. A água marinha utilizada neste processo pode já transportar microplásticos, aos quais se juntam resíduos de esgotos, sedimentos arrastados e detritos sólidos, de acordo com o El Español.
Contaminação transportada pelo ar
Num trabalho científico recente, realizado em salinas da Península Ibérica, investigadores descobriram que a contaminação não se deve apenas à água do mar. Também o ar pode ser responsável por transportar partículas plásticas até às salinas, contrariando a ideia de que a origem da poluição é exclusivamente aquática.
Dados recolhidos em várias fases do processo
Durante a investigação, foram analisadas amostras em várias fases do processo produtivo. As concentrações encontradas variaram entre 256 e 1.500 microplásticos por litro de água, desde a entrada na salina até ao cristalizador, e entre 79 e 193 partículas por quilo de sal embalado.
Estudo abrangeu salinas costeiras e interiores
A equipa recolheu amostras em seis salinas espanholas, três costeiras e três interiores. Nas localizadas longe do mar, a origem da água é diferente: provém de nascentes salgadas formadas pela dissolução de depósitos minerais originados em mares antigos, como o Thetys ou o Zechstein, em épocas como o Miocénico ou o Triásico.
Importância do ambiente envolvente
O número de microplásticos detetado varia consoante a localização geográfica das salinas. As que estão situadas em zonas naturais protegidas apresentam níveis mais baixos, sugerindo que o ambiente envolvente influencia diretamente a exposição a este tipo de contaminação.
Curiosamente, nas salinas interiores, não foram detetadas partículas plásticas na água retirada dos poços, mas estas surgiram nas etapas seguintes. Mesmo salinas abandonadas e afastadas de povoações apresentaram vestígios de microplásticos, reforçando a hipótese da contaminação pelo ar.
Investigação pioneira em Espanha
Apesar de, há mais de uma década, se identificarem microplásticos em sais comercializados, poucos estudos acompanharam o processo completo desde a origem até ao produto final. Este novo trabalho é, por isso, pioneiro ao apontar pontos críticos da contaminação e permitir estratégias para reduzir o impacto na alimentação.
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Como funciona a evaporação solar
Segundo a mesma fonte, o método tradicional de evaporação solar implica armazenar a água do mar em grandes tanques a céu aberto, onde a ação do sol e do vento faz evaporar a água, concentrando a salinidade. Quando a saturação atinge cerca de 300 gramas por litro, o sal começa a cristalizar no fundo dos tanques.
A recolha do sal ocorre quando este se acumula, formando montes com vários metros de altura. Estas estruturas funcionam como barreiras ao vento, podendo aprisionar partículas transportadas pelo ar, incluindo os microplásticos.
Riscos durante o processamento
Posteriormente, o sal é encaminhado para armazéns, onde passa por processos de lavagem, moagem e embalagem. Nestes passos, pode haver contacto com pneus, correias de borracha e embalagens plásticas, representando fontes adicionais de contaminação.
Necessidade de identificar os pontos críticos
Com tantas fases envolvidas na produção, é essencial mapear cada etapa e compreender onde há maior risco de introdução de microplásticos. Essa identificação é crucial para garantir a qualidade do sal e, consequentemente, a segurança alimentar dos consumidores.
Consequências no organismo humano
Os riscos associados ao consumo de microplásticos estão cada vez mais documentados. Entre os efeitos possíveis está a obstrução de membranas celulares, o que pode comprometer várias funções fisiológicas importantes.
Outro aspeto preocupante de acordo com o El Español, prende-se com os compostos químicos associados aos plásticos, alguns dos quais são considerados perigosos. Estas partículas podem ainda transportar microrganismos patogénicos ou espécies invasoras, com potenciais impactos na saúde pública e nos ecossistemas.
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