A permanência de lixões a céu aberto em grandes cidades brasileiras é um problema ambiental e social que ameaça se transformar em tragédia. Segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), três capitais estão no centro do alerta: Goiânia (GO), Manaus (AM) e Teresina (PI).

Esses municípios, segundo o presidente da entidade, Pedro Maranhão, podem viver desastres semelhantes ao colapso ocorrido em junho no município de Padre Bernardo (GO), quando toneladas de resíduos sólidos desmoronaram sobre uma área de preservação ambiental.

O desastre de Padre Bernardo como alerta nacional

No dia 18 de junho de 2025, cerca de 40 mil metros cúbicos de resíduos desmoronaram no aterro sanitário privado Ouro Verde, em Padre Bernardo, espalhando chorume, o líquido tóxico resultante da decomposição do lixo, pelo Córrego Santa Bárbara, localizado dentro de uma área de conservação ambiental.

A tragédia escancarou a negligência do poder público local e expôs os riscos de se manter estruturas precárias sem fiscalização. Segundo Pedro Maranhão, o desastre era previsível e já havia sido denunciado anteriormente.

A Justiça chegou a interditar o local dias depois, mas os impactos ambientais, sociais e econômicos ainda estão longe de serem resolvidos. “Foi uma crônica de uma morte anunciada”, resume.

Capitais em risco

A prefeitura afirma manter um “aterro controlado”, mas relatórios técnicos e ambientais apontam o contrário. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Goiás, o local apresenta falhas graves como ausência de licença ambiental, falta de tratamento de chorume, drenagem inadequada de gases e risco de deslizamentos.

Em 2025, duas fiscalizações constataram que o local se configura como lixão, e uma decisão judicial já determinou seu fechamento gradual. Mesmo assim, a prefeitura sustenta que o espaço pode continuar em operação por mais 30 anos, baseando-se em estudo do instituto de planejamento local.

Em Teresina, o lixão virou notícia após a morte de um menino de 12 anos atropelado no local, fato que gerou comoção popular e reacendeu os pedidos por providências imediatas.

O Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público do Estado do Piauí e o Tribunal de Contas do Estado se reuniram com a prefeitura no início de julho exigindo a desativação do lixão e o envio de resíduos para aterros sanitários privados.

A capital do Amazonas produz entre duas e três mil toneladas de lixo doméstico por dia, mas ainda depende de estruturas precárias para destinação final. Um projeto de Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos (CTTR), com aproveitamento de gases do efeito estufa, está em construção e já teve um terço concluído.

A expectativa é que o novo centro atenda municípios em um raio de 150 quilômetros da capital. No entanto, a prefeitura local ainda não apresentou medidas concretas de transição, e o risco permanece.

A diferença entre lixão e aterro sanitário

Pedro Maranhão explica que aterros sanitários não são apenas depósitos de lixo. São obras de engenharia que exigem impermeabilização do solo, captação e tratamento de chorume, drenagem de gases e controle ambiental.

Um aterro bem construído reduz os riscos de contaminação do solo e da água e evita a emissão descontrolada de metano, um dos gases do efeito estufa.

Ele cita o exemplo de Porto Alegre, onde o aterro sanitário resistiu às intensas chuvas do ano anterior sem causar impactos ambientais, mostrando que o investimento correto oferece segurança até em condições extremas.

O Brasil tem tecnologia, legislação e conhecimento técnico suficientes para erradicar os lixões. O que falta é decisão política, fiscalização rigorosa e mobilização popular.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *