As autoridades indianas divulgaram no sábado (12/07) os primeiros dados da investigação sobre o trágico acidente com o voo AI171 da Air India, um Boeing 787-8 Dreamliner que caiu logo após decolar de Ahmedabad, no oeste da Índia, no dia 12 de junho de 2025. A aeronave, com destino ao Aeroporto de Londres Gatwick, caiu em uma área residencial próxima ao aeroporto, matando 260 pessoas, entre elas 229 passageiros, 12 tripulantes e 19 moradores em solo. Apenas um passageiro sobreviveu ao desastre.
O relatório preliminar, publicado pelo Aircraft Accident Investigation Bureau (AAIB) da Índia, aponta que os dois interruptores de controle de combustível dos motores foram encontrados na posição “cutoff” poucos segundos antes do impacto.
Segundo os dados extraídos do gravador de voz da cabine, um dos pilotos questiona o outro sobre o corte de combustível, ao que recebe a resposta de que não havia realizado tal ação. Em seguida, um pedido de socorro “Mayday” foi transmitido pelo rádio. O acidente ocorreu apenas 26 segundos após a decolagem da pista 23 do Aeroporto Internacional Sardar Vallabhbhai Patel.
O Dreamliner envolvido, matrícula VT-ANB, foi entregue à Air India em 2013 e era equipado com dois motores General Electric GEnx-1B. A aeronave havia decolado com peso de 213.401 kg, dentro dos limites operacionais, e os dois motores haviam sido recentemente substituídos, em março e maio de 2025. A tripulação era experiente: o comandante tinha 56 anos e acumulava mais de 15.600 horas de voo, sendo 8.500 no 787, enquanto o copiloto, de 32 anos, tinha mais de 3.400 horas totais, com 1.128 horas no modelo.
Após a decolagem, os dados do gravador de voo mostram que o avião atingiu 180 nós antes dos interruptores de combustível dos dois motores passarem de “RUN” para “CUTOFF”, um de cada vez, com um intervalo de apenas um segundo. Com os dois motores desacelerando, a altitude começou a cair rapidamente. Os pilotos reativaram os interruptores em menos de dez segundos, acionando o sistema automático de religamento dos motores. O motor esquerdo mostrou sinais de recuperação, mas o motor direito não conseguiu atingir velocidade de núcleo suficiente após ser acionado novamente.
O sistema de emergência Ram Air Turbine (RAT) foi automaticamente acionado após a perda de energia elétrica e hidráulica. Os manetes de potência permaneceram na posição de decolagem até o impacto, embora tenham sido encontrados próximos da marcha lenta, provavelmente devido a danos térmicos. A configuração de flaps estava correta para a decolagem (5 graus), e o trem de pouso permanecia abaixado.
A queda ocorreu a cerca de 0,9 milha náutica do final da pista, próximo ao Hospital Médico BJ, provocando a destruição do avião, danos graves em cinco edifícios e ferimentos em 67 pessoas em solo. O único sobrevivente, um passageiro britânico que estava na classe econômica, conseguiu escapar dos destroços e já recebeu alta hospitalar.
Até o momento, os investigadores não identificaram falhas mecânicas ou defeitos prévios nos motores ou nos interruptores de combustível. No entanto, o modelo de interruptor instalado (part number 4TL837-3D) apresenta semelhanças com componentes mencionados em um boletim da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA), o SAIB NM-18-33, publicado em 2018.
Esse boletim alertava para o risco de desengate do mecanismo de travamento desses interruptores em aeronaves Boeing, mas não foi classificado como condição de risco, o que dispensou a emissão de uma diretiva de aeronavegabilidade. Como o alerta era apenas consultivo, a Air India confirmou que não havia realizado inspeções específicas nesses componentes.
A investigação, que ainda está em fase inicial, conta com o apoio de especialistas dos Estados Unidos, Reino Unido, Portugal e Canadá, devido à origem dos passageiros e à fabricação da aeronave. O gravador de voo avançado (EAFR) foi recuperado e teve seus dados extraídos com sucesso com o apoio da Boeing, da GE e do NTSB. Já o gravador traseiro foi destruído pelo fogo. As autoridades realizam novas análises, incluindo testes toxicológicos, entrevistas com testemunhas e avaliação do combustível utilizado.
Nenhuma recomendação de segurança foi emitida até agora para operadores do Boeing 787-8 ou motores GEnx-1B, mas o relatório final, previsto para os próximos meses, poderá oferecer novas diretrizes. O acidente levanta questionamentos sobre a interface homem-máquina no cockpit e destaca a importância de uma revisão mais ampla dos sistemas de controle de combustível em aeronaves modernas.