Uma pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Educação, Mineração e Território (EduMiTe), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), identificou a presença de metais pesados em níveis alarmantes em córregos dos municípios de Nova Lima e Raposos. O estudo apontou contaminação por arsênio, manganês e fósforo acima dos limites legais em pontos estratégicos da bacia do Alto Rio das Velhas, responsável pelo abastecimento de grande parte da capital mineira. As informações são do Projeto Manuelzão.
O caso mais grave foi registrado no Ribeirão Água Suja, em Nova Lima, onde a concentração de arsênio chegou a ser 13 vezes superior ao limite permitido pela resolução 357/2005 do Conama e pela deliberação normativa 01/2008 do Copam. Já o Córrego Mina d’Água, em Raposos, apresentou manganês em níveis 5,5 vezes acima do permitido, além de alterações em outros indicadores como nitrito, nitrato e sulfato. As amostras foram coletadas durante o período de seca, em agosto de 2024, e os dados integram o primeiro boletim do projeto “Que lama é essa?”.
Os pesquisadores indicam uma possível relação entre os pontos contaminados e a presença de grandes estruturas de mineração na região. O Ribeirão Água Suja está localizado a jusante do complexo de barragens da Vale (5MAC), enquanto o Córrego Mina d’Água está abaixo do Complexo Queiroz, da AngloGold. “A presença de arsênio é preocupante, pois ele pode se acumular nos organismos vivos e chegar ao ser humano por meio do consumo de peixes contaminados”, alertou Fernando Costa, técnico do Laboratório de Geomorfologia e Recursos Hídricos da UFMG.
A pesquisa chama atenção para a fragilidade do sistema de abastecimento de água da RMBH. A Estação de Tratamento de Água (ETA) Bela Fama, localizada na mesma bacia, é responsável por abastecer 70% da população de Belo Horizonte e 40% da região metropolitana. Segundo os pesquisadores, não há plano alternativo de captação em caso de desastre ambiental. O projeto, que surgiu a partir da mobilização de moradores após as enchentes de 2022, incorpora o conceito de ciência cidadã e pretende seguir monitorando a região com novas coletas previstas para o segundo semestre de 2025.