Raphael (C), ao lado do pai, Paulo, da esposa, Priscila, e da filha, IsabellaAcervo pessoal
Raphael, a esposa, Priscila, e a filha do casal moravam no mesmo terreno que o frentista, em Ramos, Zona Norte do Rio. Ele ressaltou que por causa da proximidade, física e afetuosa, a perda repentina provocou ainda mais dor. “Está sendo uma batalha muito difícil para mim, minha esposa e minha filha, pois éramos muito apegados a ele. Meu pai estava presente com a gente todos os dias”, contou.
Ele detalhou os momentos que teve com o idoso no dia do acidente fatal, que ainda mexe com sua rotina. “Antes dele ir trabalhar, ele passou aqui em casa para falar com a gente, brincou e desceu. Ainda liguei para ele, conversei e desliguei o celular. Horas depois, recebi a pior notícia. Minha mente até hoje está confusa. Não consigo trabalhar direito. Passar na frente da casa dele e saber que ele não está… saber que não vamos mais conversar… Está difícil. Perdi um amigão”, desabafou.
A neta Isabella também sofre com a ausência do avô. Raphael conta que a menina de 11 anos era muito amada por Paulo. “Minha filha sente falta dele. Eles eram muito apegados. Ela era o xodó dele. Mas, agora, restaram só as lembranças boas, os conselhos. E sei que ele está em um lugar bom, junto com Deus”, comentou Raphael.
Suporte à família
De acordo com o Sindicato dos Frentistas do Rio de Janeiro (Sinpospetro-RJ), a família recebe assistência jurídica, além de outras iniciativas, como uma conexão com a Ipiranga, responsável pelo posto onde aconteceu a explosão.
Sobre indenizações, ainda segundo o sindicato, no próximo dia 17, representantes vão acompanhar Raphael na retirada, junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), da Declaração de Beneficiário de Dependente. O documento tem a finalidade de provar que o trabalhador tem direito a benefícios por morte em um acidente durante serviço. Já no dia 25, a expectativa é que a família receba tudo o que tem direito, incluindo um seguro acidente e um auxílio funeral.
Investigações
O motorista de aplicativo lembrou que o pai ficava preocupado com possíveis falhas quando Raphael abastecia o carro com Gás Natural Veicular (GNV). “Para ver como meu pai era cuidadoso: quando fui instalar o GNV no meu carro, ele disse para colocar tudo novo, para não correr risco de nada”.
A Ipiranga retornou contato afirmando que acompanhou a apuração do caso e que “a explosão ocorreu em função de adulteração do cilindro de GNV do veículo envolvido, conforme a conclusão do laudo oficial da Polícia Civil”.
Raphael afirmou que vai aguardar o laudo pericial antes de se manifestar. “Sobre, de fato, de quem foi a culpa, não sei ainda. Estou esperando o resultado da perícia para termos a certeza do que aconteceu”, afirmou.
O Sinpospetro-RJ destacou que criou, junto à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), um grupo de trabalho para acompanhar as investigações.
Fiscalização mais rigorosa
O sindicato garantiu que trabalha pela adoção de procedimentos mais seguros para o abastecimento com GNV em postos do estado. Por isso, protocolou na Alerj um pedido de audiência pública, prevista para agosto, a fim de tratar do assunto. Na pauta, está uma fiscalização maior sobre a manutenção dos equipamentos de GNV.
Órgão responsável por tal fiscalização, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) também foi procurada, mas disse apenas que “causas da explosão devem ser consultadas junto à Polícia Civil”. Novamente questionada sobre fiscalização, a ANP ainda não se pronunciou. O espaço segue aberto.
A Ipiranga enfatizou que todos os equipamentos do posto passaram por inspeção, inclusive da própria ANP, e apresentaram conformidade com as normas.
Em meio à dor pela morte do pai, Raphael torce para que a tragédia estimule um rigor maior nas fiscalizações: “Espero que sim. Quando for abastecer, o frentista deve pedir o selo de segurança do GNV; verificar se está vistoriado e pedir que seja proibido o abastecimento atrás, onde fica o cilindro. Pois se o abastecimento fosse na frente, talvez meu pai estivesse aqui hoje vivo”.