Mais de seis anos após a tragédia do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), 116 famílias que perderam entes queridos finalmente receberão indenizações da mineradora Vale. Os pagamentos estão previstos até o dia 1º de agosto de 2025.
A tragédia ocorreu em janeiro de 2019 e matou 272 pessoas. As famílias beneficiadas incluem parentes de funcionários da Vale, vítimas sem vínculo formal com a empresa, pessoas que perderam ações judiciais ou que não chegaram a ingressar com processos, além de dois bebês que eram gestados por mães que faleceram no desastre.
Famílias ainda esperam por justiça
Apesar do alívio parcial que o acordo traz, muitos familiares afirmam que a dor permanece. Maria Regina da Silva, mãe da mecânica Priscila Helen Silva, lamenta a ausência da filha todos os dias. “Dinheiro nenhum traz minha filha de volta. O que queremos é justiça, não apenas compensação”, desabafa.
Para ela, o luto é agravado pela sensação de impunidade. Os responsáveis pela tragédia ainda não foram julgados. “A justiça verdadeira só virá quando quem causou tudo isso for responsabilizado criminalmente”, diz.
“Reconhecimento é importante, mas não basta”, diz Avabrum
A presidente da Avabrum (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos), Nayara Porto, considera o acordo um avanço importante por representar um reconhecimento formal das vítimas. Ela perdeu o marido na tragédia e afirma que, apesar do alívio financeiro, a verdadeira reparação ainda está distante.
“O sofrimento foi enorme e, até hoje, ninguém foi responsabilizado. Não buscamos vingança, mas a verdade. Os culpados precisam ser julgados e punidos”, afirma.
Reuniões intensas resultaram no acordo
O balanço do acordo foi apresentado no Memorial Brumadinho no último dia 3 de julho. Entre abril e junho, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) conduziu 160 audiências e mais de 90 horas de negociações com representantes das famílias, do Ministério Público do Trabalho e da Vale.
O valor total das indenizações não foi divulgado, a pedido dos próprios familiares. Os pagamentos serão organizados pela 5ª Vara do Trabalho de Betim, que ficou encarregada da transferência dos recursos.
Famílias seguem cobrando punição aos culpados
Embora o acordo traga algum alívio financeiro, a dor da perda e a revolta com a impunidade permanecem. Iracema Dias de Oliveira, que perdeu o marido no desastre, afirma que sua saúde foi profundamente afetada. “A indenização ajuda a manter minha dignidade, mas não apaga a ausência do meu companheiro. Ele deveria estar aqui”, diz.
Ela, como outros familiares, reforça que a luta por justiça continua. “Não é sobre dinheiro, é sobre memória, verdade e responsabilidade”, conclui.
Próximos passos
A Vale deverá manter os pagamentos das indenizações trabalhistas às famílias que aderirem ao acordo até julho de 2026. Novas audiências individuais continuarão sendo realizadas com apoio do Ministério Público e do Judiciário. Outras 156 famílias ainda aguardam acordos, cujos processos seguem em andamento.