Um mistério da astronomia pode ter terminado nesta quarta-feira (2). Astrônomos revelaram, pela primeira vez, a imagem de uma estrela que morreu duas vezes. A teoria de que um astro do tipo poderia explodir duas vezes existe há anos, mas nunca tinha sido comprovada.
O registro da chamada “detonação dupla” foi feito pelo Multi Unit Spectroscopic Explorer (MUSE) do Very Large Telescope (VLT) e pode indicar que algumas estrelas se tornam supernovas sem atingir o chamado limite de Chandrasekhar, a massa mínima necessária para que uma estrela exploda.
A equipe usou o telescópio para investigar os restos da supernova SNR 0509-67.5, localizada a 60.000 anos-luz de distância, na constelação de Dorado. O cadáver indica que a estrela, uma anã branca, explodiu duas vezes.

Anãs brancas são importantes para a astronomia
As anãs brancas, pequenos núcleos inativos que restam depois de estrelas como o nosso Sol queimarem o seu combustível nuclear, podem dar origem ao que os astrônomos chamam de supernova de Tipo Ia. Essas explosões são úteis também para medir distâncias espaciais, já que costumam ser constantes.
“As explosões de anãs brancas desempenham um papel crucial na astronomia”, diz Priyam Das, estudante de doutoramento na Universidade de New South Wales Canberra, Austrália, que liderou o estudo sobre a supernova na Nature Astronomy, em comunicado.
Boa parte do conhecimento que temos sobre o Universo vem de supernovas Tipo Ia. “No entanto, e apesar da sua importância, o mistério de longa data do mecanismo exato que desencadeia a sua explosão continua por resolver”, acrescenta Priyam Das.

Como a estrela morreu duas vezes?
Atualmente, a principal teoria sobre a origem desse tipo de supernova indica que a anã branca precisa estar em um sistema binário de estrelas e próxima o suficiente para sugar o material de sua companheira. Dessa forma, a anã acumula massa “roubada” até atingir um nível crítico e explodir.
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Mas isso considera apenas uma explosão. Com duas, o cenário pode ser diferente. A confirmação indica que “algumas supernovas de Tipo Ia explodem por meio de um mecanismo de ‘dupla detonação’. Neste modelo alternativo, a anã branca acumula em torno de si um manto de hélio ‘roubado’ de sua companheira, que pode tornar-se instável e incendiar-se. A primeira explosão gera uma onda de choque que se desloca em torno e para o interior da anã branca, despoletando uma segunda detonação no núcleo da estrela e acabando por dar origem à supernova”, diz um trecho do comunicado.

Os resultados são uma indicação clara de que as anãs brancas podem explodir muito antes de atingirem o famoso limite de massa de Chandrasekhar, e que o mecanismo de ‘dupla detonação’ ocorre de facto na natureza
Ivo Seitenzahl, líder do estudo do Instituto de Estudos Teóricos de Heidelberg, na Alemanha
“Esta prova tangível duma dupla detonação não só contribui para a resolução dum mistério de longa data, como também nos oferece um magnífico espetáculo visual”, finaliza Priyam Das.