A partir de 1º de agosto, a gasolina brasileira terá mais etanol: a mistura passa de 27% (E27) para 30% (E30). A medida, aprovada pelo governo federal, pretende reduzir a dependência de combustíveis importados e promover maior estabilidade de preços.

Embora traga ganhos ambientais e econômicos, o aumento também gera controvérsias entre especialistas e frotistas, principalmente em relação ao impacto sobre veículos não flex e à elevação da mistura de biodiesel no diesel.

Segundo a Petrobras, os combustíveis importados — incluindo gasolina, diesel e outros derivados — correspondem a cerca de 27,4% do consumo no Brasil.

No entanto, considerando somente a gasolina, a participação das importações é menor, em torno de 15%. Além de avançarmos na descarbonização dos combustíveis, a maior participação de fontes renováveis vai diminuir nossa dependência da importação.

Etanol: impactos e estudos

Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), 76,2% da frota de automóveis em uso no país é composta por veículos flex.

Para esses veículos, uma alteração na quantidade de etanol na gasolina não gera nenhum problema, pois os automóveis flex se adaptam automaticamente a qualquer porcentagem dessa mistura.

O restante da frota de automóveis é composto por veículos elétricos (menos de 1%) e veículos movidos a gasolina. É para esses que há controvérsias, pois há quem diga que os 30% de etanol anidro na gasolina estariam próximos do que as montadoras consideram aceitável.

O Instituto Mauá de Tecnologia publicou um estudo em que avalia o aumento da porcentagem de etanol na gasolina de 27% para 30% (avaliação da utilização de percentual de 30% de etanol anidro na gasolina em veículos leves e motocicletas — março de 2025).

A análise, elaborada a partir de solicitação do Ministério de Minas e Energia (MME), sumariza os levantamentos efetuados da seguinte forma: “O estudo demonstrou que não houve mudanças relevantes nos parâmetros avaliados, uma vez que os veículos abastecidos com as misturas com maiores teores de etanol anidro apresentaram comportamento e valores muito semelhantes aos observados com E27”.

Foram analisados automóveis e motocicletas, considerando os seguintes parâmetros: comportamento dos sistemas eletrônicos de gerenciamento, partidas a frio, estabilidade de marcha lenta, aceleração a frio e a quente, retomadas de velocidade a quente, emissões gasosas e autonomia, sem que diferenças significativas fossem verificadas nesses parâmetros.

Segundo o relatório, “foram conduzidos testes em veículos leves e motocicletas, não flexfuel, representativos da frota brasileira”.

Em relação à possibilidade, prevista na Lei do Combustível do Futuro, de que a mistura possa ascender a 35%, o relatório indica que testes de durabilidade seriam conduzidos na fase de avaliação da mistura E35, não sendo, portanto, necessários na etapa de análise do E30.

Portanto, conforme o estudo produzido pelo Instituto Mauá de Tecnologia, não se sustenta a suposição de que o aumento de 27% para 30% na mistura de etanol anidro na gasolina poderia causar redução de desempenho nos veículos não flex.

Biodiesel: críticas do setor

Em relação ao acréscimo de 1% de biodiesel no diesel refinado (passando de 14% para 15%), há uma reclamação de proprietários e frotistas, indicando problemas técnicos, como entupimento de filtros, maior corrosão de componentes, aumento no consumo e dificuldades em regiões frias devido à cristalização.

Esses efeitos estão associados à menor estabilidade do biodiesel, sua maior absorção de água e menor poder calorífico, impactando especialmente frotistas e transportadoras, que registram aumento nos custos de manutenção.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) tem redobrado a fiscalização junto aos produtores de biodiesel, distribuidoras e postos de combustíveis para evitar problemas que possam levar ao acúmulo de água e contaminação que gerem impacto no uso convencional.

Meio ambiente e transição energética

O aumento da adição de biocombustíveis à gasolina e diesel colabora sobremaneira para a redução de emissões de CO2, pois esse gás é reabsorvido quando do plantio da próxima safra de cana-de-açúcar (etanol) ou soja (biodiesel).

Além de propiciar maior independência em relação aos combustíveis importados e contribuir para a redução de preços (especialmente no caso da gasolina), o país avança na transição energética.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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