Pesquisa sugere que eventos cósmicos ocorridos há milhares de anos podem ter causado resfriamentos globais e extinções no planeta
Pesquisadores estão cada vez mais convencidos de que supernovas — explosões estelares violentas ocorridas a milhares de anos-luz da Terra — podem ter provocado mudanças radicais no clima e no ambiente do planeta em seu passado distante.
A hipótese, liderada por Robert Brakenridge, do Instituto de Pesquisa Ártica e Alpina (EUA), foi detalhada em estudo publicado na edição de junho da revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Hipóteses
Segundo a pesquisa, radiações emitidas por supernovas relativamente próximas à Terra teriam afetado diretamente a atmosfera, corroendo a camada de ozônio e comprometendo o equilíbrio climático global. Um dos efeitos seria a degradação de metano na estratosfera, o que reduziria o efeito estufa e resultaria em períodos de resfriamento abrupto.
Temos mudanças ambientais abruptas na história da Terra. Isso é sólido, vemos essas mudanças. A pergunta é: o que as causou?”, questiona Brakenridge ao portal Live Science.
Implicações
O estudo defende que a radiação de supernovas pode ter desencadeado extinções em massa, aumento de incêndios florestais e episódios de resfriamento global.
Embora pesquisadores já tivessem apontado os perigos das supernovas, a inovação do trabalho de Brakenridge está em cruzar dados teóricos com evidências empíricas observadas na Terra. Um dos principais focos foi a análise de anéis de crescimento de árvores, que registram alterações químicas na atmosfera ao longo de milênios.
Brakenridge identificou 11 picos anormais de carbono radioativo nos últimos 15 mil anos — possíveis vestígios da radiação cósmica provocada por supernovas. “Os eventos que conhecemos, aqui na Terra, estão no momento certo e na intensidade certa”, afirmou.
Apesar da coincidência temporal, os cientistas ainda precisam descartar outras fontes possíveis para esses picos, como grandes erupções solares. Para isso, análises complementares em núcleos de gelo e sedimentos marinhos devem ser realizadas.
O tema ganha relevância diante da possibilidade de uma supernova futura. A gigante vermelha Betelgeuse, a cerca de 700 anos-luz da Terra, está em fase terminal e pode explodir nos próximos 100 mil anos.
Embora distante o suficiente para não representar ameaça imediata, eventos como esse ilustram a importância de compreender como tais fenômenos afetam a Terra.
“À medida que aprendemos mais sobre nossas estrelas vizinhas, a capacidade de previsão se torna realidade”, concluiu Brakenridge ao Live Science. “Serão necessários mais modelos e observações para compreender completamente a exposição da Terra a tais eventos.”