Stockton Rush, o falecido CEO da OceanGate que morreu com outras quatro pessoas quando seu submersível Titanimplodiu em junho de 2023, admirava o que chamava de energia de “pau grande” de empresários como Elon Musk e Jeff Bezos. Ele era obcecado pelo Titanic. Tinha o hábito de demitir quem discordava de seus julgamentos. E levou adiante o mergulho fatal mesmo após vários engenheiros e especialistas alertarem que o submersível estava condenado ao fracasso.

Esses são alguns dos detalhes apresentados em Titan: O Desastre da OceanGate, o novo documentário da Netflix que estreia em 11 de junho. Titan cobre parte do mesmo material de Implosion: The Titanic Sub Disaster, documentário da Discovery, incluindo imagens extensas da audiência da Guarda Costeira dos EUA em 2024, que investigou a tragédia.

Mas tem um trunfo: David Lochridge, diretor de operações marítimas da OceanGate e piloto de submersíveis, demitido após questionar os padrões de segurança de Rush e mais tarde revelou informações críticas sob a Lei de Proteção ao Denunciante. Ao lado de Mark Harris, jornalista investigativo da WIRED, que também atuou como produtor consultor em Titan, Lochridge oferece uma enxurrada de fatos contundentes no novo documentário.

Abaixo, veja cinco coisas que a Rolling Stone aprendeu com Titan: O Desastre da OceanGate:

1) Discordar de Rush geralmente significava demissão rápida da OceanGate

Lochridge foi dispensado quando insistiu que Titan não estava pronto para seu grande mergulho rumo aos destroços do Titanic. O mesmo aconteceu com Tony Niessen, diretor de engenharia da OceanGate. Titan pinta o retrato de um CEO que se cercava de bajuladores — muitos deles inexperientes e desqualificados. Bonnie Carl, ex-diretora financeira e de RH da OceanGate, conta no filme que, em certo momento, Stockton queria torná-la a nova piloto-chefe da empresa. A resposta dela no documentário: “Você tá maluco? Eu sou contadora.”

Lochridge detalha a teimosa arrogância de Rush no filme: “Ele tinha todos os contatos da indústria de submersíveis dizendo para ele não fazer isso. Mas, quando você escolhe fazer tudo sozinho, e percebe que errou logo no começo, tem que admitir que estava errado.” Ninguém entrevistado em Titan sugere que Rush fosse capaz de admitir seus erros.

Niessen é direto ao avaliar sua experiência na OceanGate: “Trabalhei para alguém que provavelmente está na beira de um diagnóstico de psicopatia clínica. Como você lida com uma pessoa assim, que é dona da empresa?”

Emily Hasmmermeister, assistente de engenharia da OceanGate e vista por Rush como uma jovem promissora na empresa, saiu quando percebeu que o casco de fibra de carbono do Titan era instável. “Stockton estava tão obcecado em chegar ao Titanic que nada do que alguém dissesse fazia diferença,” diz ela no filme. “Eu jamais prenderia alguém para dentro daquele submersível. E isso era algo com que muitos colegas meus concordavam na época. Nenhum deles ficou muito tempo na empresa.”

2) Rush e sua esposa vieram de famílias ricas e tradicionais

Rush tinha um perfil de quem soltava um “f***-se” com facilidade — o que combina com alguém que veio de uma família com “dinheiro de f***-se”. “Tanto Stockton quanto sua esposa, Wendy, vieram de riqueza geracional,” diz Mark Harris, repórter da Wired, no documentário. Rush se formou em Princeton, apesar das notas medianas. Ele dizia ser descendente direto de dois signatários da Declaração de Independência: Richard Stockton e Benjamin Rush. Em uma reviravolta irônica, Wendy Rush era tataraneta de duas pessoas que morreram no Titanic: Isidor e Ida Strauss. Isidor era um dos donos da rede de lojas Macy’s. “Stockton definitivamente fazia parte do um por cento,” afirma Harris no filme.

3) Rush gostava de economizar usando materiais baratos

Se você tomasse um gole de bebida alcoólica a cada vez que alguém menciona “fibra de carbono” em Titan, provavelmente não conseguiria voltar para casa dirigindo. O material é mais barato do que, por exemplo, titânio ou aço — e também mais fácil de transportar. Esses fatores tornaram a fibra de carbono uma escolha atraente para Rush durante a construção do Titan. Mas os engenheiros entrevistados no documentário dizem que o material pode ser altamente instável. Nunca havia sido usado antes para um mergulho tão profundo quanto o que Rush queria realizar.

No filme, Rob McCallum — cofundador da Eyos Expeditions e consultor da OceanGate — descreve a fibra de carbono como “basicamente um fio feito de carbono. Ele é revestido com resina para se manter unido.” Ele resume a estrutura do Titan assim: “Não havia como saber quando ela falharia. Mas era uma certeza matemática de que iria falhar.”

4) Rush também gostava de driblar regulamentações

Segundo o documentário, Rush recusou-se a fazer com que Titan fosse “classificado” — ou seja, certificado por uma entidade terceirizada que garantisse o cumprimento de padrões da indústria. Lochridge afirma que, pouco após insistir em uma inspeção independente e escrever, em um relatório de 2018, que o Titan não estava pronto para o mergulho de 3.800 metros até os destroços do Titanic, ele foi demitido.

McCallum destaca outro artifício de Rush: ele insistia em classificar seus passageiros como “especialistas de missão”. Essa denominação visava proteger legalmente a empresa caso algo desse errado. “Foi apenas um dos passos que OceanGate deu para conseguir driblar a legislação dos Estados Unidos,” diz McCallum no filme.

5) Titanic ainda exerce fascínio sobre o imaginário popular

Rush chamava essas pessoas de “Titaniacs”. São os obcecados por tudo relacionado ao Titanic. Alguns estavam dispostos a pagar mais de 100 mil dólares por um assento no Titan. No filme, Rush afirma: “Existem três palavras na língua inglesa conhecidas no mundo todo: Coca-Cola, Deus e Titanic.” O sucesso do filme de James Cameron em 1997 certamente tem parte nisso — a produção arrecadou mais de US$ 2 bilhões no mundo todo e levou muitos espectadores a se sentirem reis (ou rainhas) do mundo.

Mas não foi só o filme que manteve Titanic em evidência. O navio britânico afundou em 1912, matando cerca de 1.500 pessoas — em grande parte devido a falhas estruturais, como as que condenariam mais tarde o Titan. O documentário faz questão de pontuar essa ironia.

“Mesmo agora, mais de 100 anos após o naufrágio, ela ainda captura a atenção das pessoas,” diz McCallum no doc. Algo na combinação entre catástrofe em massa e as divisões de classe a bordo — Primeira Classe, Segunda Classe e Terceira Classe, com taxas de sobrevivência caindo conforme o status econômico — continua sendo hipnotizante. Antes mesmo do filme Titanic (1997), havia o musical The Unsinkable Molly Brown (1960), que virou filme em 1964 com Debbie Reynolds, baseado na vida da sobrevivente e filantropa Margaret Brown. Rush não foi o primeiro entusiasta fanático do Titanic — mas pode ter sido o mais catastroficamente arrogante.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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