A presidência rotativa da Dinamarca vai acontecer em breve, sem que possamos compreender, de forma concreta, a extensão da influência real que estas presidências exercem. Num momento em que parecem servir mais para simular a ideia de democracia do que para definir políticas estruturais profundas, torna-se evidente que o seu alcance é sobretudo simbólico, ainda que com potencial para continuar estragos significativos.
Basta recordar que a autonomia dos países durante este período é bastante limitada. Viktor Orbán, durante a presidência húngara, foi exemplo claro de que a liberdade de actuação para impor uma visão política própria é praticamente inexistente, desde que essa visão não se enquadre na agenda dominante da União Europeia. A Hungria sofreu penalizações severas: congelamento de fundos europeus, descredibilização por parte das instituições, hostilidade diplomática e, inclusive, foi publicamente equacionada, sem qualquer base legal, a suspensão da presidência rotativa. Partindo deste princípio, torna-se claro que as expectativas depositadas nestas presidências devem ser encaradas com realismo porque são, em larga medida, uma encenação institucional com escassa margem de soberania.
A Dinamarca, pelo contrário, não deverá enfrentar oposição relevante, dado o seu alinhamento ideológico com as prioridades actuais de Bruxelas. O país tem uma forte preocupação verde, perfeitamente alinhada com os objectivos climáticos da União Europeia, e é previsível que utilize a presidência para consolidar essa agenda.
Apesar das consequências desse avanço marcado da agenda verde serem já visíveis, tanto na Europa como na Dinamarca já que se têm verificado o aumento do preço da energia, a pressão crescente sobre os sectores produtivos e a instabilidade legislativa têm provocado efeitos concretos e preocupantes. Segundo o CEO da ARLA, muitos agricultores estão a congelar investimentos devido à incerteza regulatória, o que já contribuiu para uma quebra de 1 % na produção de leite na Europa.
A Dinamarca está a cometer erros fatais em nome de algo a que gostam de chamar “ecologia” mas que, na prática, tem servido para justificar a imposição ideológica de políticas ambientais que ignoram o mercado e a realidade económica. No caminho, o país está a afastar investimento privado com encargos fiscais, instabilidade legislativa e metas irrealistas. O mais recente leilão de energia eólica offshore, não recebeu qualquer proposta, nenhuma empresa quis participar. Não é vantajoso e a economia é impiedosa.
Também a Ørsted, empresa semi‑pública, durante anos apresentada como bandeira da transição energética, perdeu mais de 70 % do seu valor de mercado desde 2021, perdeu projectos importantes, e tornou-se dependente de injecções estatais porque os projectos deixaram de ser financeiramente viáveis. O aumento dos juros e dos custos de construção, aliado à ausência de ajustamento político, fez ruir a fachada da sustentabilidade e é preocupante que apesar destes sinais de desgaste, Copenhaga continue determinada em avançar sem fazer uma reflexão crítica, pelo contrário: O ministro do Ambiente dinamarquês, ao ser confrontado com críticas crescentes às políticas climáticas da União Europeia, afirmou que o essencial era “melhor regulamentação e não menos regulamentação”.
Perante o historial nacional, onde não houve qualquer pejo de sobrecarregar os dinamarqueses com projectos inviáveis, é previsível que sob o pretexto desta liderança, o European Green Deal avance com todas as suas contundências, mantendo toda a desconexão com a realidade.
Uma abordagem ambiental inspirada num modelo liberal não nega a necessidade de reduzir emissões, ou cuidar da casa comum, o planeta, mas não se pode fazer reformas tendo por base soluções centralizadas, irrealistas e penalizadoras. Em vez de metas impositivas e penalizações cegas, a Europa deveria apostar na concorrência tecnológica, na desburocratização do investimento verde e em incentivos ao empreendedorismo ambiental.
A presidência dinamarquesa deveria centrar-se naquilo que os países nórdicos historicamente fizeram bem: a diplomacia ponderada, a inovação tecnológica e a gestão pragmática dos recursos públicos. Em vez de exportar para toda a Europa uma versão hipertrofiada do seu modelo social-democrata que depende de condições culturais e económicas muito específicas, a Dinamarca deveria reconhecer os limites dessa abordagem quando aplicada a uma escala continental.