
Apesar do impacto econômico, autoridades alertam que a influenza aviária, popularmente conhecida como gripe aviária, não oferece riscos à saúde humana, sobretudo por meio do consumo da carne de aves e de ovos.
Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) destacou que não há qualquer restrição ao consumo dos produtos. Afirma ainda que o risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo, ocorrendo, em sua maioria, entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou, em entrevista para a TV Centro América, que não é preciso “ter qualquer tipo de pavor”:
— Podem, tranquilamente, continuar consumindo e devem continuar consumindo carne de frango e ovos com tranquilidade. O risco, e há um risco de contaminação, é nas pessoas que manuseiam o animal contaminado, os tratadores, as pessoas que vão recolher. Por isso, tem de ter um protocolo mais rígido.
O médico infectologista do Hospital Moinhos de Vento Paulo Gewehr reforça que não há risco de contaminação pelo consumo de frango ou ovos. Ele alerta, no entanto, que o leite cru pode, sim, transmitir a doença.
— Se for pasteurizado, não há problema — completa.
Gewehr explica que aves infectadas eliminam o vírus por meio da saliva, secreções mucosas e fezes. A transmissão pode ocorrer por contato direto com essas secreções, por inalação de gotículas ou partículas virais presentes no ar, ou ainda pelo toque em superfícies contaminadas, seguido de contato com os olhos, nariz ou boca.
Embora rara, a infecção humana ocorre, geralmente, após contato direto e desprotegido com aves contaminadas — ou seja, sem uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), como luvas, roupas específicas, máscaras, respiradores ou proteção ocular.
Entenda:
- Transmissão de aves para humanos — ocorre principalmente por exposição direta a aves infectadas ou por inalação de partículas virais presentes em suas excreções
- Transmissão entre humanos — conforme destaca o especialista, essa forma de transmissão é extremamente rara. Quando ocorre, está associada a contato próximo, prolongado e desprotegido, sendo considerada limitada, ineficiente e não sustentada
Perguntas e respostas
É seguro consumir carne de frango?
Sim. A carne de frango bem cozida, atingindo pelo menos 74ºC, é segura para o consumo, mesmo em áreas onde houve detecção da influenza aviária.
O consumo de ovos representa risco de infecção?
Não, desde que os ovos estejam cozidos. É possível a contaminação apenas com ovos crus, mas esse tipo de consumo é pouco comum na culinária brasileira.
Qual a orientação sobre o preparo de alimentos?
Todos os produtos de origem avícola (carnes e ovos) devem ser bem cozidos. O vírus da influenza aviária não resiste ao calor. Portanto, o cozimento adequado elimina o risco de infecção.
Quem está em maior risco de contaminação?
Trabalhadores que lidam diretamente com aves vivas — como granjeiros, veterinários e operadores de abatedouros — estão mais expostos, pois o contágio ocorre pelo contato com secreções contaminadas ou pela inalação de partículas virais.
Há risco de transmissão entre humanos?
Teoricamente, sim, mas nunca foi documentado. O vírus não adquiriu a capacidade de transmissão entre pessoas, e por isso não causou uma pandemia. Para que isso ocorra, são necessárias mutações que ainda não aconteceram.
Como se prevenir?
As principais medidas de prevenção incluem:
- Evitar contato direto com aves doentes
- Lavar bem as mãos após manipular alimentos crus
- Usar máscara em ambientes de risco
- E, especialmente para quem trabalha com animais: procurar atendimento médico ao apresentar sintomas gripais e informar a exposição a aves
Dados epidemiológicos
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2003 e 22 de abril de 2025, foram registrados 973 casos humanos de infecção por influenza A (H5N1), com 470 óbitos — o que corresponde a uma taxa de letalidade de 48%.
O que é a influenza aviária
A influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) é uma doença viral que afeta aves silvestres e domésticas, e em raros casos, humanos.
Entre os principais sintomas apresentados pelas aves estão dificuldade respiratória, secreção nasal ou ocular, espirros, incoordenação motora, torcicolo, diarreia e alta mortalidade.
Primeiro caso
A detecção de um caso de influenza aviária em aves comerciais do Estado foi confirmada nesta sexta-feira. Trata-se do primeiro caso encontrado em granjas comerciais do Brasil.
Segundo a pasta, o caso da doença foi detectado em Montenegro, no Vale do Caí. Desde 2006, ocorre a circulação do vírus, principalmente na Ásia, África e no norte da Europa, mas não havia foco em aves comerciais no Brasil.
A pasta destaca que governo informou os órgãos internacionais e parceiros comerciais do país sobre a ocorrência.
Também destacou que as medidas previstas no plano nacional de contingência já começaram a ser adotadas. O objetivo é conter a doença, garantir a segurança alimentar e evitar qualquer impacto na produção.
A Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do detalhou as medidas que estão sendo tomadas neste momento:
- Isolamento da área em Montenegro
- Eliminação das aves restantes, para que seja iniciado o protocolo de saneamento da granja
- Investigação complementar em raio inicial de 10 quilômetros da área de ocorrência do foco e de possíveis vínculos com outras propriedades.
Nota oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária
“O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou nesta quinta-feira (15) a detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em matrizeiro de aves comerciais. A detecção ocorreu no estado do Rio Grande do Sul, no município de Montenegro.
Esse é o primeiro foco de IAAP detectado em sistema de avicultura comercial no Brasil. Desde 2006, ocorre a circulação do vírus, principalmente na Ásia, África e no norte da Europa.
O Mapa alerta que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos. A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo. O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas).
As medidas de contenção e erradicação do foco previstas no plano nacional de contingência já foram iniciadas e visam não somente debelar a doença, mas também manter a capacidade produtiva do setor, garantindo o abastecimento e, assim, a segurança alimentar da população.
O Mapa também está realizando a comunicação oficial aos entes das cadeias produtivas envolvidas, à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), aos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, bem como aos parceiros comerciais do Brasil.
O Serviço Veterinário brasileiro vem sendo treinado e equipado para o enfrentamento dessa doença desde a primeira década dos anos 2000.
Ao longo desses anos, para prevenir a entrada dessa doença no sistema de avicultura comercial brasileiro, várias ações vêm sendo adotadas, como o monitoramento de aves silvestres, a vigilância epidemiológica na avicultura comercial e de subsistência, o treinamento constante de técnicos dos serviços veterinários oficiais e privados, ações de educação sanitária e a implementação de atividades de vigilância nos pontos de entrada de animais e seus produtos no Brasil.
Tais medidas foram cruciais e se mostraram efetivas e eficientes para postergar a entrada da enfermidade na avicultura comercial brasileira ao longo desses quase 20 anos.”
Produção: Leonardo Martins e Natália Piva