A conveniência de adquirir vegetais já lavados e prontos a consumir, como alface ou espinafres embalados, tornou-se um hábito frequente entre quem procura refeições rápidas e práticas. Contudo, especialistas em segurança alimentar alertam que estas saladas embaladas, frequentemente associados a um estilo de vida saudável, representam um risco acrescido para a saúde pública. A sua ligação a surtos de doenças provocadas por bactérias como E. coli, Listeria e Salmonella é motivo de preocupação constante.

Folhas verdes no centro de múltiplos surtos

De acordo com Darin Detwiler, professor de políticas alimentares na Universidade de Northeastern e autor do livro Food Safety: Past, Present, and Predictions, citado pela Executive Digest, a escolha pessoal passa por evitar por completo a compra de saladas embaladas. Conforme sublinhou, estas folhas têm estado associadas a episódios de hospitalizações, falência renal e mortes.

Segundo a Food and Drug Administration (FDA), a frequência dos surtos levou à criação, em 2020, do Leafy Greens STEC Action Plan, revisto em 2023. Apesar das medidas implementadas, os riscos persistem, como evidencia um estudo publicado em abril de 2024 no Journal of Foodborne Illness, que estima em até 2,3 milhões o número de casos anuais de doenças relacionadas com o consumo destas folhas nos EUA.

A origem da contaminação nestas saladas pode ser traçada aos campos de cultivo. De acordo com Kimberly Baker, responsável pelo programa de sistemas alimentares e segurança na Universidade de Clemson, os vegetais podem ser afetados pela água de rega, pelo ar ou pelo contacto com animais selvagens.

Olivia Roszkowski, chef e formadora certificada em segurança alimentar no Institute of Culinary Education, em Nova Iorque, reforça que a proximidade a explorações pecuárias densas aumenta a probabilidade de contaminação, especialmente nos estados do Arizona e da Califórnia.

Darin Detwiler alerta ainda para os perigos das chamadas lagoas de estrume, onde resíduos animais podem infiltrar-se nos sistemas de irrigação, agravando o problema. Além disso, segundo o especialista, algumas explorações recorrem a fontes de água não tratadas, como rios e lagos, elevando o risco de propagação de agentes patogénicos.

Centros de processamento, um elo crítico na cadeia

No percurso até à embalagem final, as folhas verdes presentes nestas saladas passam por centros de processamento onde a mistura de produtos de diferentes origens aumenta as dificuldades de rastreabilidade. De acordo com Detwiler, basta uma única folha contaminada para comprometer milhares de embalagens, uma vez que as folhas são lavadas e empacotadas em conjunto.

A professora Rosemary Trout, da Universidade de Drexel, lembra que, atualmente, os produtos vegetais estão mais frequentemente ligados a surtos alimentares do que os de origem animal.

Embora o frio ajude a travar a multiplicação de bactérias, não elimina microrganismos presentes, como destaca Detwiler, sublinhando que o armazenamento a baixas temperaturas não garante a segurança total.

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O mito da lavagem caseira

Muitos consumidores tentam reduzir o risco lavando novamente as folhas embaladas em casa. No entanto, segundo Kimberly Baker, esta prática é desaconselhada. A especialista alerta que a lavagem doméstica pode introduzir novas bactérias existentes nas bancadas, nos lava-loiças ou nas mãos. Além disso, conforme explica Detwiler, bactérias como a E. coli aderem fortemente às superfícies das folhas, não sendo removidas apenas com água.

O especialista acrescenta que apenas o calor seria eficaz na eliminação dos agentes patogénicos, solução impraticável para vegetais destinados a serem consumidos crus.

Como minimizar o risco

Apesar das limitações, há formas de reduzir a exposição a possíveis contaminações. A consulta regular das páginas da FDA e dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) permite identificar recolhas ou alertas de segurança. Os consumidores devem evitar sacos com folhas visivelmente murchas, molhadas ou viscosas, sinais de possível deterioração ou contaminação bacteriana.

Outro cuidado recomendado é manter os produtos a temperaturas inferiores a 4 ºC, evitando alterações bruscas de temperatura durante o transporte e armazenamento. Sempre que possível, optar pela compra de alfaces inteiras ou molhos de espinafres frescos é uma escolha mais segura, por exporem menos área à contaminação.

De acordo com Detwiler, passar as folhas por água fria corrente, sem as deixar de molho, ajuda a remover sujidade e detritos visíveis, embora não elimine microrganismos. Este método, embora menos prático, pode ser a melhor forma de reduzir o risco de infeção sem comprometer o consumo de vegetais frescos.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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