A classe trabalhadora está fazendo história.
Centenas de trabalhadores estão se levantando contra essas empresas anti-sindicais, que se recusam a negociar contratos que garantam aumentos reais de salários, proteções no emprego e outras melhorias tão necessárias nas condições de trabalho.
Os trabalhadores da Amazon e do Starbucks, que têm estado na linha de frente de uma nova onda de organização trabalhista entre setores precarizados nos últimos anos, disseram basta.
Essas são as maiores greves da história do Starbucks e da Amazon nos Estados Unidos. Enquanto essas empresas gastam milhões de dólares para impedir a organização, atrasar negociações e retaliar funcionários, esses trabalhadores estão se levantando em uma das greves mais importantes da história recente do trabalho.
Na sexta-feira, 20 de dezembro, o Starbucks Workers United anunciou uma série de greves crescentes que começaram em lojas sindicalizadas de três cidades: Los Angeles, Seattle e Chicago. O sindicato declarou que as greves durarão até 24 de dezembro e, com uma votação nacional de autorização de greve de 98%, outras lojas sindicalizadas estão prontas para aderir à paralisação ao longo da semana.
Desde que os trabalhadores de Buffalo, Nova York, votaram pela sindicalização em 2021, os trabalhadores do Starbucks formaram mais de 500 sindicatos em lojas por todo o país, representando mais de 11.000 funcionários. Eles vêm lutando por um primeiro contrato desde então, primeiro enfrentando a resistência do Starbucks para reconhecer o sindicato e, em seguida, buscando forçar a empresa a negociar de boa fé. Recusando-se a aceitar essas tentativas de enfraquecer seu poder coletivo, os trabalhadores do Starbucks realizaram várias ações importantes ao longo dos anos, incluindo uma paralisação em mais de 150 lojas durante o mês do Orgulho para protestar contra as práticas anti-LGBTQ+ da empresa. Eles também emitiram uma forte declaração contra o genocídio em Gaza, o que resultou em um processo judicial contra o sindicato por parte do Starbucks e ataques ferozes à organização. No entanto, essa luta apenas fortaleceu os trabalhadores em seu esforço para levar o Starbucks à mesa de negociações.
Agora, o Starbucks declarou publicamente que apresentará uma proposta séria de contrato antes do final do ano, mas os trabalhadores afirmam que a empresa não está atendendo a nenhuma de suas demandas. Além disso, a empresa está tentando contornar o sindicato, oferecendo concessões por conta própria para evitar futuras iniciativas de organização em outras lojas. Uma das principais reivindicações dos trabalhadores é o aumento salarial, mas a empresa se recusa a incluir reajustes imediatos no contrato. Em um gesto que os trabalhadores consideraram ofensivo, a empresa ofereceu apenas um aumento salarial insignificante de 1,5% para os próximos anos.
Os trabalhadores estão denunciando a hipocrisia descarada do segundo maior conglomerado alimentar do país, que lucra quase US$ 40 bilhões por ano com o trabalho de baixo salário de seus baristas. Em setembro, o Starbucks contratou um novo CEO, Brian Niccol, para reformular as operações da empresa, incluindo a gestão das negociações com o sindicato. Enquanto os trabalhadores exigem salários dignos, a empresa ofereceu um pacote de compensação de US$ 113 milhões para o novo executivo. Como afirmou Michelle Eisen, trabalhadora do Starbucks, Niccol ganha “aproximadamente US$ 57.000 por hora, o que é cerca de 10.000 vezes mais do que o salário médio de um barista por hora.” Além de salários melhores, os trabalhadores também exigem melhorias no plano de saúde e nas políticas de licença remunerada.
Com esta greve, os trabalhadores do Starbucks estão se juntando aos centenas de funcionários da Amazon que estão em greve em centros de distribuição por todo o país neste fim de semana. Eles exigem que a empresa reconheça o sindicato e negocie um primeiro contrato que garanta condições de trabalho mais seguras e justas em alguns dos armazéns mais infames dos Estados Unidos. Esses trabalhadores são tratados como máquinas, desumanizados pelas condições exaustivas de trabalho impostas pela Amazon. Mesmo assim, estão enfrentando o segundo homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, e o segundo maior empregador dos Estados Unidos. Avaliada em US$ 2 trilhões e classificada como número 2 na Fortune 500, a Amazon se recusa a reconhecer o sindicato formado por quase 10.000 trabalhadores em todo o país.
Em uma luta que pode transformar o cenário da classe trabalhadora no uso de sindicatos para combater as divisões e ataques dos patrões, esses trabalhadores exigem o fim das horas extras compulsórias e a implementação de um salário mínimo de US$ 30 por hora. Essa é uma batalha para manter o ímpeto do esforço tremendo de sindicalização dessas imensas forças de trabalho em plena força.
Juntos, os trabalhadores da Amazon e do Starbucks estão mostrando que, em um dos momentos mais cruciais do ano para o lucro dos patrões, são eles que fazem tudo funcionar — e podem parar tudo.
A Geração U levanta a cabeça
Os nomes de seus CEOs podem ser diferentes, mas os trabalhadores da Amazon e do Starbucks sabem que suas lutas estão intimamente conectadas. Eles estão unidos por esforços históricos de sindicalização e pela luta por novas organizações de trabalhadores que sejam uma força combativa contra a exploração dos patrões. Embora desempenhem funções diferentes em setores distintos, estão enfrentando duas empresas que construíram sua imensa riqueza encontrando novas maneiras de explorar, dividir e precarizar seus trabalhadores. Contra essas práticas, os trabalhadores da Amazon e do Starbucks estão lutando por salários mais altos, proteções trabalhistas e pela elevação das aspirações de toda a classe trabalhadora.
Os próprios trabalhadores percebem essas conexões. Em uma chamada de organização para anunciar sua greve, os trabalhadores do Starbucks celebraram a greve da Amazon em frente a uma bandeira palestina, conclamando seus membros a apoiar os piquetes da Amazon. Esses trabalhadores se apresentam como parte de um movimento unificado, lado a lado com milhares de outros que se mobilizaram nos últimos anos por melhores condições de trabalho — trabalhadores da UPS, da indústria automobilística, da saúde, professores, acadêmicos, estudantes e centenas de milhares mais. Eles levam para as linhas de piquete sua energia para lutar contra a opressão junto à exploração, desde a homofobia até genocídios imperialistas sangrentos. Para eles, essas lutas são esforços que fortalecem suas batalhas — ao trazer mais diversidade e facetas da classe trabalhadora para a luta — em vez de serem uma distração.
Os sindicatos da Amazon e do Starbucks se tornaram os rostos da “Geração U” — de União (Union, em inglês) — que acendeu a chama de um ressurgimento do movimento trabalhista que os Estados Unidos não viam há décadas. Eles fizeram parte da onda de mobilização de trabalhadores em 2021 e 2022, conquistando vitórias importantes para formar sindicatos contra massivas campanhas corporativas anti-sindicais. Este “Strikemas” (um trocadilho com “Natal das Greves”) — construído a partir das lições aprendidas por esses trabalhadores nos últimos anos de luta — é a próxima fase dessa batalha.
O fato de suas lutas terem seguido em paralelo por anos não é coincidência. É o produto de um momento político marcado por crises e por décadas de ataques às condições de vida dos trabalhadores e aos seus direitos de se organizar e lutar. Esses trabalhadores foram radicalizados pela pandemia, que mostrou a eles que são essenciais e que nada funciona sem a classe trabalhadora.
Essas mudanças vão além das questões do chão de fábrica, atingindo o cerne de como a sociedade capitalista opera. Trabalhadores da Starbucks e da Amazon — junto a centenas de milhares de outros — têm visto com brutal clareza, ao longo das últimas décadas, como a classe dominante enriquece ainda mais os ricos e empobrece os pobres, fomentando divisões na classe trabalhadora e atacando os setores mais marginalizados da sociedade. Eles têm observado como os patrões trabalham de mãos dadas com os políticos para atacar imigrantes, conceder impunidade à polícia para matar pessoas negras e pardas, reverter direitos de cuidado reprodutivo e autonomia corporal, apoiar genocídios e dividir a classe trabalhadora em categorias de trabalhadores cada vez mais precarizados e incapazes de sobreviver.
Muitos desses trabalhadores participaram dos protestos do Black Lives Matter (BLM), estabelecendo conexões entre a luta pelas vidas negras e as condições de seus locais de trabalho: os baixos salários, a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e o assédio racista contra trabalhadores negros e imigrantes por parte dos gerentes. Em comícios iniciais do Sindicato dos Trabalhadores da Amazon, trabalhadores e apoiadores levantaram gritos anti-polícia, trazendo o espírito do BLM para essas lutas trabalhistas.
Com a pandemia e o movimento Black Lives Matter, os trabalhadores da Amazon e do Starbucks entraram em cena tendo um vislumbre de seu verdadeiro poder — vendo o local de trabalho como um espaço de luta não apenas por seus interesses econômicos, mas também para fazer suas vozes serem ouvidas contra o barulho das políticas capitalistas promovidas pelos dois grandes partidos e o desespero que supervisionam. Este é o espírito da “Geração U”, uma nova geração política que vê seus interesses como distintos dos interesses dos patrões.
Esses trabalhadores estão dispostos a trazer a greve como sua arma mais poderosa contra os patrões, prontos para suspender seu trabalho para conquistar suas demandas e atingir os patrões onde mais dói. As lutas dos últimos anos demonstraram essa disposição para lutar e dão aos patrões um bom motivo para não subestimar o poder de uma classe trabalhadora despertada e enfurecida. Quanto mais vemos as conexões entre essas lutas, mais enxergamos como toda a classe trabalhadora pode se unir para lutar por suas demandas — desde o fim do trabalho precarizado até a conquista de um sistema de saúde universal e uma sociedade que não seja dirigida pelos lucros dos bilionários, mas pelas necessidades da maioria.
Está claro quem são os inimigos — não apenas os patrões, mas também os políticos capitalistas que os ajudam a explorar os trabalhadores, desde romper greves ferroviárias até conceder subsídios massivos e manter leis que dividem os trabalhadores em categorias. Enquanto os trabalhadores da Amazon e do Starbucks enfrentam os CEOs de algumas das empresas mais ricas do país nesta temporada de festas, sua luta é um importante primeiro passo para se preparar para os combates que virão. Como vimos com a generosa doação de US$ 1 milhão de Jeff Bezos ao fundo de posse de Trump, os patrões se alinham aos políticos que facilitam seus lucros — encontrando novas maneiras de explorar trabalhadores e desvalorizar seu trabalho.
Os trabalhadores que agora estão em greve por seus direitos nos lembram de algo importante: quando nos organizamos de acordo com os interesses de nossa classe, podemos vencer.