A central nuclear de Cattenom, na França, a apenas 8 km do Luxemburgo, e a de Tihange, na Bélgica, a cerca de 90 km da fronteira, continuam a representar possíveis ameaças para o Grão-Ducado se houver um desastre nuclear.
Os comprimidos de iodo são considerados uma solução preventiva eficaz em caso de um tal acidente porque protegem a tiroide contra a absorção de iodo radioativo, uma das substâncias mais perigosas libertadas nestes cenários. O Grão-Ducado já encomendou, por isso, dois milhões e 390 mil destes medicamentos.
Em 2024, 65 comunas do Luxemburgo tinham comprimidos de iodo suficientes para um quarto dos seus habitantes em caso de desastre nuclear. Entre 2013 e 2023, o Grão-Ducado encomendou 239.000 embalagens de 10 medicamentos cada, ou seja dois milhões e 390 mil comprimidos, informou a Ministra da Saúde e da Segurança Social, Martine Deprez, numa resposta parlamentar à deputada Mandy Minella (DP).
Questionada sobre se existem dados oficias sobre o stock destes medicamentos, a ministra referiu que “a 1 de janeiro de 2024, 65 municípios tinham enviado informações sobre o seu stock de comprimidos de iodo à ‘Divisão de Radioproteção’” e que todos tinham o suficiente para abastecer, pelo menos, um quarto dos seus habitantes, a taxa de 25% exigida pelas autoridades luxemburguesas no âmbito do Plano Cattenom (Plano de Intervenção de Urgência (PIU) em caso de acidente nuclear).
A governante lembra que, contudo, “não existe qualquer obrigação de recolha estatística dos dados sobre os stocks de comprimidos de iodo nos municípios e, por esse motivo, não é possível apresentar números concretos”.
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O Ministério da Saúde e da Segurança Social esclarece que “encomenda, através da ‘Divisão de Radioproteção’, comprimidos de iodo, em princípio, de dois em dois anos até cinco em cinco anos, consoante a necessidade de reposição dos stocks”.
O Luxemburgo encomendou 51.000 embalagens de 10 comprimidos em 2013, 50.000 em 2017 e a mesma quantidade em 2022, e 88.000 em 2023, num total de 239.000 embalagens numa década — o equivalente a 2.390.000 comprimidos, informa ainda.
Em 2014, foi ainda lançada uma campanha de sensibilização na qual 180 mil pessoas adquiriram comprimidos de iodo para estarem preparadas para eventuais acidentes nucleares, tendo “ainda sido encomendadas reservas adicionais através do HCPN (Haut-Commissariat à la protection nationale)”, refere o Governo, sem detalhar a quantidade.
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“Validade ilimitada”
Martine Deprez indica também que “os comprimidos de iodo têm praticamente validade ilimitada quando armazenados em condições normais” uma vez que “são compostos maioritariamente por iodeto de potássio, um sal estável”, não sendo necessário substituí-los após 10 anos.
“A Direção da Saúde controla regularmente a eficácia dos lotes atualmente em circulação. Até à data, não foi detetada nenhuma diminuição significativa da eficácia, nem mesmo nos lotes mais antigos, como os de 1998”, acrescenta.
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Há cerca de um ano, a Greenpeace alertou que em caso de acidente nuclear “como o de Fukushima”, no Japão, em 2011, “todo o Luxemburgo será contaminado” pela nuvem radioativa, sob certas condições meteorológicas, bem como algumas regiões de França, Bélgica e Alemanha.