A série Ruptura, da Apple TV+, tem se destacado como uma das narrativas mais intrigantes e complexas da televisão contemporânea. Com uma trama que mergulha em temas como identidade, memória e os impactos do capitalismo desenfreado, a série consegue equilibrar uma crítica social afiada com uma história envolvente e cheia de reviravoltas.

O episódio 8 da segunda temporada, intitulado “Sweet Vitriol”, é um exemplo perfeito de como Ruptura consegue surpreender e provocar reflexões profundas em seu público.

A Ruptura como Metáfora Central

O conceito de “ruptura” é central na série, tanto literalmente quanto metaforicamente. A técnica de “severance” (ou “ruptura” em português) permite que os funcionários da Lumon Industries dividam suas memórias entre suas vidas pessoais e profissionais.

Enquanto estão no trabalho, eles não têm acesso às suas memórias externas, e vice-versa. Essa divisão cria uma dicotomia entre o “Innie” (a versão do funcionário que existe apenas no ambiente de trabalho) e o “Outie” (a versão que vive fora do trabalho). Essa ruptura não é apenas física, mas também psicológica e emocional, levantando questões sobre identidade e autonomia.

No episódio 8, descobrimos que Harmony Cobel, uma das figuras mais enigmáticas da série, foi a verdadeira inventora do procedimento de ruptura. Essa revelação não apenas redefine nossa compreensão do personagem, mas também coloca em perspectiva a natureza exploratória da Lumon Industries.

A ruptura, que inicialmente parecia uma ferramenta de eficiência corporativa, revela-se uma invenção profundamente ligada ao controle e à manipulação dos trabalhadores.

Capitalismo e Exploração Laboral

Ruptura não se contenta em explorar apenas os aspectos psicológicos da ruptura. A série também mergulha nas raízes históricas do capitalismo e na exploração laboral. O episódio 8 faz paralelos claros com a história real da industrialização nos Estados Unidos, especificamente com a figura de Andrew Carnegie e suas usinas de aço.

Carnegie, um magnata do aço, é conhecido por suas práticas laborais controversas, que incluíam condições de trabalho precárias e a oposição ferrenha à sindicalização. A série sugere que Kier Eagan, o fundador da Lumon, é uma figura semelhante, cujo legado é construído sobre a exploração de trabalhadores e comunidades inteiras.

A cidade de Salt’s Neck, onde parte do episódio se passa, é um retrato vívido do declínio industrial. Uma vez próspera devido à presença da Lumon, a cidade agora está em ruínas, com muitos de seus habitantes lutando contra vícios e pobreza. Essa representação é um lembrete poderoso dos custos humanos do progresso industrial e do capitalismo desenfreado.

A Origem Sombria da Lumon

O episódio também nos leva às origens da Lumon, revelando que a empresa começou como uma fábrica de éter dietílico, uma substância que foi usada tanto como anestésico quanto como droga recreativa no século XIX. Essa descoberta abre novas portas para teorias sobre os verdadeiros objetivos da Lumon.

Será que a empresa começou como uma fornecedora de produtos médicos, apenas para se transformar em uma entidade que busca controlar a mente e o corpo de seus funcionários?

A conexão entre o éter e a ruptura é particularmente fascinante. O éter, que era usado para induzir um estado de inconsciência durante cirurgias, pode ser visto como um precursor simbólico da ruptura, que também “anestesia” parte da consciência dos funcionários. Essa ligação sugere que a Lumon pode ter começado com boas intenções, mas foi corrompida pela ganância e pelo desejo de controle.

Harmony Cobel: Uma Figura Complexa

Harmony Cobel emerge como um dos personagens mais complexos da série. Sua jornada em “Sweet Vitriol” revela uma mulher profundamente marcada por seu passado. Nascida em uma família de trabalhadores da Lumon, Cobel foi forçada a trabalhar na fábrica de éter desde os oito anos de idade.

Sua invenção da ruptura foi apropriada por Kier Eagan, que a apresentou como sua própria criação. Essa traição não apenas explica a relação ambígua de Cobel com a Lumon, mas também sugere que ela pode estar pronta para se voltar contra a empresa.

A cena em que Cobel grita “MINHAS! MINHAS CRIAÇÕES!” enquanto segura os projetos originais da ruptura é um momento poderoso. Ela não está apenas reivindicando sua invenção, mas também sua identidade e autonomia, que foram roubadas dela pela Lumon. Essa ruptura interna, entre quem ela é e quem a empresa a fez ser, é talvez a mais significativa de todas.

Respostas finalmente são reveladas

Ruptura continua a desafiar as expectativas do público, misturando uma narrativa complexa com uma crítica social afiada. O episódio 8, “Sweet Vitriol”, é um exemplo perfeito de como a série consegue explorar temas profundos como identidade, memória e capitalismo, enquanto mantém uma trama cheia de reviravoltas e revelações surpreendentes.

A ruptura, tanto como conceito narrativo quanto como metáfora, serve como um lembrete poderoso dos custos humanos do progresso e da exploração. À medida que a série avança, fica claro que a verdadeira ruptura não é apenas entre o “Innie” e o “Outie”, mas entre o que somos e o que o sistema nos faz ser. E, como Harmony Cobel, talvez seja hora de reivindicarmos nossas próprias criações e identidades, antes que seja tarde demais.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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