A minissérie Cidade Tóxica (Toxic Town), da Netflix, traz à tona um dos maiores escândalos ambientais do Reino Unido, a contaminação da cidade de Corby, que resultou no nascimento de diversas crianças com deformidades nos membros superiores.
Por anos, as mães dessas crianças acreditaram que tudo não passava de uma infeliz coincidência. No entanto, uma investigação revelou que a negligência do Conselho de Corby no descarte de resíduos tóxicos foi responsável pelos danos irreparáveis à saúde de seus filhos. A batalha judicial durou mais de uma década, mas, em 2009, as mães finalmente venceram e fizeram história no Reino Unido.
Se você assistiu à série e quer saber mais sobre a história real, aqui está tudo o que aconteceu.
Como as mães descobriram a verdade
Tudo começou com três mulheres: Lisa Atkinson, Susan McIntyre e Sarah Pearson. Elas deram à luz bebês com graves malformações nos membros, mas, por muito tempo, não tinham ideia do que havia causado essas deformidades.
Foi só quando o jornalista Graham Hind, do Sunday Times, começou a investigar o caso que as peças começaram a se encaixar. Ele descobriu um padrão alarmante: havia várias mães na região cujos filhos nasceram com problemas semelhantes. Hind revelou que a possível causa seria o descarte inadequado de resíduos tóxicos da antiga usina siderúrgica da cidade.
Quando a história foi publicada, o advogado Des Collins, especialista em direito ambiental, decidiu ajudar as famílias a responsabilizar o Conselho de Corby pelo ocorrido. Mas provar a conexão entre os resíduos tóxicos e os casos de deformidade fetal não seria fácil.
A prova da contaminação e os erros da prefeitura

A primeira grande descoberta aconteceu quando um ex-funcionário do Conselho, Sam Hagen, entregou documentos confidenciais a Collins. Esses documentos mostravam que, entre 1987 e 1999, durante um projeto de revitalização da cidade, toneladas de resíduos tóxicos foram transportadas de forma irregular.
Os caminhões que levavam o lixo contaminado pelas ruas da cidade sequer eram cobertos, espalhando poeira tóxica pelo ar. Um dos especialistas contratados para a investigação, Roger Braithwaite, comprovou que essa poeira estava carregada de substâncias perigosas, como mercúrio, chumbo, cádmio, arsênio e cianetos.
E o pior? Os próprios relatórios ambientais da prefeitura alertavam sobre o perigo dessa exposição, mas as recomendações de segurança foram simplesmente ignoradas.
Com isso, o advogado Des Collins já tinha parte do quebra-cabeça montado:
- Havia resíduos tóxicos perigosos.
- A prefeitura sabia disso e não tomou as medidas de segurança.
- Os moradores foram expostos ao material contaminado.
Mas ainda faltava uma peça fundamental: provar que essa exposição poderia causar as deformidades nos bebês.
A comprovação científica: ligando o veneno à tragédia
Para vencer a batalha judicial, Collins precisava de especialistas que pudessem provar que os produtos químicos encontrados no ar poderiam afetar fetos em desenvolvimento. Foi aí que entrou o ginecologista David Penman.
Penman descobriu que um dos metais pesados presentes na poeira tóxica, o cádmio, poderia causar redução dos membros fetais. Além disso, um outro especialista, Tony Cox, conseguiu provar que a poeira contaminada poderia viajar longas distâncias pelo vento, alcançando todas as mães que processavam a prefeitura.
Isso foi crucial, pois o Conselho de Corby tentava alegar que algumas das mães moravam longe demais para terem sido afetadas. Mas os cálculos de Cox mostraram que a poeira conseguia percorrer grandes distâncias, atingindo toda a cidade.
Com essas evidências, Collins finalmente tinha um caso sólido para levar à Justiça.
A batalha no tribunal e a vitória das mães
O julgamento começou em fevereiro de 2009, e a defesa da prefeitura tentou descredibilizar as evidências apresentadas pelos especialistas. No entanto, os números não mentiam: durante o período de contaminação, os casos de malformações congênitas triplicaram na região.
O juiz Akenhead fez questão de inspecionar pessoalmente as rotas por onde os caminhões passaram, comprovando o rastro de poeira tóxica que ficou na cidade.
As 18 mães que processaram a prefeitura relataram o sofrimento de seus filhos, que enfrentavam dificuldades devido às deformidades. Entre os casos estavam:
- Bebês nascidos sem dedos ou com as mãos atrofiadas
- Crianças com membros encurtados ou enfraquecidos
- Malformações graves que exigiram cirurgias e tratamentos caros
Em abril de 2009, a Justiça finalmente deu o veredicto: o Conselho de Corby foi considerado culpado por negligência e condenado a indenizar todas as famílias.
O impacto da decisão e a mudança na lei
O caso de Corby entrou para a história como um dos maiores processos ambientais do Reino Unido. Em 2010, um acordo foi fechado, e a prefeitura pagou indenizações milionárias às vítimas.
Mais do que isso, a decisão mudou a forma como o Reino Unido lida com resíduos tóxicos e projetos de revitalização urbana. Hoje, as normas de segurança são muito mais rígidas, evitando que tragédias como essa se repitam.



A história real por trás de Cidade Tóxica
Se você assistiu a Cidade Tóxica, sabe o impacto emocional que a série tem. Mas agora, conhecendo a história real, fica ainda mais claro o quanto essa batalha foi difícil e dolorosa para as mães de Corby.
Elas passaram anos sem saber que seus filhos foram vítimas de um crime ambiental. Lutaram contra um sistema que tentou abafar o caso. Mas, no fim, venceram e fizeram justiça, não apenas por seus filhos, mas por toda a cidade.
A série da Netflix revive essa história de maneira impactante, mostrando não apenas a tragédia, mas também a força dessas mulheres que transformaram dor em luta – e luta em vitória.