Para especialistas, é essencial a adoção de estratégias que reduzam os impactos das mudanças climáticas na saúde neurológica
As mudanças climáticas têm impactado diretamente a saúde da população em todo o mundo. Segundo estudos científicos recentes, os eventos extremos — como ondas de calor, tempestades e secas — têm causado o aumento e o agravamento dos casos de doenças respiratórias, cardiovasculares, além da incidência daquelas transmitidas por vetores, como dengue, por exemplo. No entanto, as mais preocupantes são as complicações neurológicas.
De acordo com o neurocirurgião Luiz Severo, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), as ondas de calor estão entre os fenômenos climáticos que mais impactam a saúde neurológica.
“As altas temperaturas aumentam significativamente os casos de hipertermia e insolação, condições que dificultam a dissipação de calor pelo corpo e podem levar a falhas metabólicas e inflamação no sistema nervoso central”, destaca o especialista no artigo O Impacto das Mudanças Climáticas na Saúde Neurológica e Geral.
Além disso, períodos prolongados de calor extremo comprometem funções cognitivas, reduzindo a memória e a capacidade de concentração e também agravam as condições neurológicas em pacientes vulneráveis.
Outro fator agravante é a piora da qualidade do ar. Segundo o neurocirurgião, a exposição prolongada a partículas finas (PM2,5) e poluentes como o dióxido de nitrogênio (NO₂) está associada a um maior risco de acidente vascular cerebral (AVC) e ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.
Cerca de 6% dos casos de demência podem estar diretamente ligados à poluição do ar, devido ao estresse oxidativo e à inflamação crônica que afetam o cérebro, de acordo com estudos.
E as crianças tendem a ser as mais vulneráveis. “Crianças expostas a eventos climáticos extremos mostram maior vulnerabilidade a transtornos emocionais, incluindo pesadelos, comportamentos regressivos e dificuldades de socialização”, aponta o especialista.
Para Severo, é essencial para a qualidade de vida da população a adoção de estratégias que reduzam os impactos das mudanças climáticas na saúde neurológica.
“Quando expomos a possibilidade de que, sim, as altas temperaturas, o diálise carbônico, alteram o cérebro, piorando a neuroinflamação, aumentam o risco de desidratação, aumentam a exposição de neurotoxinas, desenvolvendo risco de aumento de AVC, doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson”, explica em entrevista ao Terra.
“Isso toca a população como algo individual. Às vezes, a gente não tem a capacidade de analisar coletivamente, mas quando a gente coloca o impacto na sua saúde, a saúde neurológica, é um start a mais de conscientização”, afirma.